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quarta-feira, 3 de junho de 2009

2.2.3. Desenvolvimento cognitivo

No Desenvolvimento cognitivo devemos ter em conta dois psicologos imporantissimos e com teoria que facilitam a compreençao: Piaget e Vygodky.


Piaget considera 4 períodos no processo evolutivo da espécie humana que são caracterizados "por aquilo que o indivíduo consegue fazer melhor" no decorrer das diversas faixas etárias ao longo do seu processo de desenvolvimento (Furtado, op.cit.). São eles:

· 1º período: Sensório-motor (0 a 2 anos)
· 2º período: Pré-operatório (2 a 7 anos)
· 3º período: Operações concretas (7 a 11 ou 12 anos)
· 4º período: Operações formais (11 ou 12 anos em diante)

Cada uma dessas fases é caracterizada por formas diferentes de organização mental que possibilitam as diferentes maneiras do indivíduo relacionar-se com a realidade que o rodeia (Coll e Gillièron, 1987). De uma forma geral, todos os indivíduos vivenciam essas 4 fases na mesma seqüência, porém o início e o término de cada uma delas pode sofrer variações em função das características da estrutura biológica de cada indivíduo e da riqueza (ou não) dos estímulos proporcionados pelo meio ambiente em que ele estiver inserido. Por isso mesmo é que "a divisão nessas faixas etárias é uma referência, e não uma norma rígida", conforme lembra Furtado (op.cit.). Abordaremos, a seguir, sem entrar em uma descrição detalhada, as principais características de cada um desses períodos:

(a) Período Sensório-motor (0 a 2 anos): segundo La Taille (2003), Piaget usa a expressão "a passagem do caos ao cosmo" para traduzir o que o estudo sobre a construção do real descreve e explica. De acordo com a tese piagetiana, "a criança nasce em um universo para ela caótico, habitado por objetos evanescentes (que desapareceriam uma vez fora do campo da percepção), com tempo e espaço subjetivamente sentidos, e causalidade reduzida ao poder das ações, em uma forma de onipotência" (id ibid). No recém nascido, portanto, as funções mentais limitam-se ao exercício dos aparelhos reflexos inatos. Assim sendo, o universo que circunda a criança é conquistado mediante a percepção e os movimentos (como a sucção, o movimento dos olhos, por exemplo).
Progressivamente, a criança vai aperfeiçoando tais movimentos reflexos e adquirindo habilidades e chega ao final do período sensório-motor já se concebendo dentro de um cosmo "com objetos, tempo, espaço, causalidade objetivados e solidários, entre os quais situa a si mesma como um objeto específico, agente e paciente dos eventos que nele ocorrem" (id ibid).

(b) Período pré-operatório (2 a 7 anos): para Piaget, o que marca a passagem do período sensório-motor para o pré-operatório é o aparecimento da função simbólica ou semiótica, ou seja, é a emergência da linguagem. Nessa concepção, a inteligência é anterior à emergência da linguagem e por isso mesmo "não se pode atribuir à linguagem a origem da lógica, que constitui o núcleo do pensamento racional" (Coll e Gillièron, op.cit.). Na linha piagetiana, desse modo, a linguagem é considerada como uma condição necessária mas não suficiente ao desenvolvimento, pois existe um trabalho de reorganização da ação cognitiva que não é dado pela linguagem, conforme alerta La Taille (1992). Em uma palavra, isso implica entender que o desenvolvimento da linguagem depende do desenvolvimento da inteligência.
Todavia, conforme demonstram as pesquisas psicogenéticas (La Taille, op.cit.; Furtado, op.cit., etc.), a emergência da linguagem acarreta modificações importantes em aspectos cognitivos, afetivos e sociais da criança, uma vez que ela possibilita as interações interindividuais e fornece, principalmente, a capacidade de trabalhar com representações para atribuir significados à realidade. Tanto é assim, que a aceleração do alcance do pensamento neste estágio do desenvolvimento, é atribuída, em grande parte, às possibilidades de contatos interindividuais fornecidos pela linguagem.
Contudo, embora o alcance do pensamento apresente transformações importantes, ele caracteriza-se, ainda, pelo egocentrismo, uma vez que a criança não concebe uma realidade da qual não faça parte, devido à ausência de esquemas conceituais e da lógica. Para citar um exemplo pessoal relacionado à questão, lembro-me muito bem que me chamava à atenção o fato de, nessa faixa etária, o meu filho dizer coisas do tipo "o meu carro do meu pai", sugerindo, portanto, o egocentrismo característico desta fase do desenvolvimento. Assim, neste estágio, embora a criança apresente a capacidade de atuar de forma lógica e coerente (em função da aquisição de esquemas sensoriais-motores na fase anterior) ela apresentará, paradoxalmente, um entendimento da realidade desequilibrado (em função da ausência de esquemas conceituais), conforme salienta Rappaport (op.cit.).

(c) Período das operações concretas (7 a 11, 12 anos): neste período o egocentrismo intelectual e social (incapacidade de se colocar no ponto de vista de outros) que caracteriza a fase anterior dá lugar à emergência da capacidade da criança de estabelecer relações e coordenar pontos de vista diferentes (próprios e de outrem ) e de integrá-los de modo lógico e coerente (Rappaport, op.cit.). Um outro aspecto importante neste estágio refere-se ao aparecimento da capacidade da criança de interiorizar as ações, ou seja, ela começa a realizar operações mentalmente e não mais apenas através de ações físicas típicas da inteligência sensório-motor (se lhe perguntarem, por exemplo, qual é a vareta maior, entre várias, ela será capaz de responder acertadamente comparando-as mediante a ação mental, ou seja, sem precisar medi-las usando a ação física).
Contudo, embora a criança consiga raciocinar de forma coerente, tanto os esquemas conceituais como as ações executadas mentalmente se referem, nesta fase, a objetos ou situações passíveis de serem manipuladas ou imaginadas de forma concreta. Além disso, conforme pontua La Taille (1992:17) se no período pré-operatório a criança ainda não havia adquirido a capacidade de reversibilidade, i.e., "a capacidade de pensar simultaneamente o estado inicial e o estado final de alguma transformação efetuada sobre os objetos (por exemplo, a ausência de conservação da quantidade quando se transvaza o conteúdo de um copo A para outro B, de diâmetro menor)", tal reversibilidade será construída ao longo dos estágios operatório concreto e formal.

(d) Período das operações formais (12 anos em diante): nesta fase a criança, ampliando as capacidades conquistadas na fase anterior, já consegue raciocinar sobre hipóteses na medida em que ela é capaz de formar esquemas conceituais abstratos e através deles executar operações mentais dentro de princípios da lógica formal. Com isso, conforme aponta Rappaport (op.cit.:74) a criança adquire "capacidade de criticar os sistemas sociais e propor novos códigos de conduta: discute valores morais de seus pais e contrói os seus próprios (adquirindo, portanto, autonomia)".
De acordo com a tese piagetiana, ao atingir esta fase, o indivíduo adquire a sua forma final de equilíbrio, ou seja, ele consegue alcançar o padrão intelectual que persistirá durante a idade adulta. Isso não quer dizer que ocorra uma estagnação das funções cognitivas, a partir do ápice adquirido na adolescência, como enfatiza Rappaport (op.cit.:63), "esta será a forma predominante de raciocínio utilizada pelo adulto. Seu desenvolvimento posterior consistirá numa ampliação de conhecimentos tanto em extensão como em profundidade, mas não na aquisição de novos modos de funcionamento mental".


Vygotsky atribuiu muita importância ao papel do professor como impulsionador do desenvolvimento psíquico das crianças. A ideia de um maior desenvolvimento conforme um maior aprendizado não quer dizer, porém, que se deve apresentar uma quantidade enciclopédica de conteúdos aos alunos. O importante, para o pensador, é apresentar às crianças formas de pensamento, não sem antes detectar que condições elas têm de absorve-las. Fonte: Revista Nova escola- Edição Especial 10/2008
Lev Semenovitch Vygotsky (1896-1934) Pensador importante, foi pioneiro na noção de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interações sociais (e condições de vida). O conceito de mediação é o conceito central da sua psicologia.
Segundo Vygotsky, as funções cognitivas aparecem duas vezes no desenvolvimento cultural da criança:

primeiro a nível social: interpsicologicamente
depois a nível individual : intrapsicologicamente

Vygotsky defendia que:
• As crianças constróem o seu conhecimento
• O desenvolvimento não pode ser separado do seu contexto social
• A aprendizagem pode liderar o desenvolvimento
• A linguagem desempenha um papel central no desenvolvimento da mente

A apropriação do conhecimento consiste no momento em que o aprendiz interiorizou ou aprendeu determinada informação ou conceito e é capaz de utilizar esse conhecimento independentemente. A actividade humana é mediada pelo uso de ferramentas, que estão para a evoluçãocultural como os genes para a evolução biológica. Do mesmo modo que os sistemas de ferramentas, os sistemas de signos(linguagem, escrita, numeração) são criados pela sociedade e mudam com o seu grau de desenvolvimento.

Cada indivíduo alcança a consciência através da actividade mediada por essas ferramentas, que unem a mente com o mundo real dos objectos e dos acontecimentos.

E as funções mentais superiores:
- São dependentes das funções inferiores
- São determinadas pelo contexto cultural
- Evoluem de uma função partilhada parauma função individual(para Vygotsky, a escolaridade formal é um dos contextos mais favoráveis para o desenvolvimento das funções mentais superiores)

A Zona do Desenvolvimento Proximal (ZDP)
ZDP - uma área potencial de desenvolvimento cognitivo• consiste na distância que medeia entre o nível actual de desenvolvimento da criança, determinado pela sua capacidade actual de resolver problemas individualmente, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da resolução de problemas sob orientação de adultos ou em colaboração com pares maiscapazes
A ideia da ZDP influencia a três níveis a concepção do processo de ensino/aprendizagem:• No que se refere a como assistir uma criança na realização de uma tarefa• a como assistir crianças• a como determinar o que é apropriado do ponto de vista do desenvolvimento

A ideia de ZDP aumenta o alcance do que é considerado apropriado em termos de desenvolvimento:
• O que é apropriado em termos de desenvolvimento é normalmente definido pelas realizações independentes da criança, pelos processos e habilidades que tenham desenvolvido completamente. Não inclui o nível de desempenho assistido, nem osprocessos e habilidades emergentes.
• Portanto, é mais previsível que os professores esperem a emergência espontânea de determinado comportamento antes de promoverem actividades que oencorajem.• Como resultado, as crianças só dispõem de oportunidades que Vygotsky considera onível inferior da sua ZDP.

Na ZDP decorre uma dialéctica incessante entre aprendizagem e desenvolvimento:
• A aprendizagem precede o desenvolvimento
• A aprendizagem progride mais rapidamente que o desenvolvimento
• A aprendizagem redunda em desenvolvimento

Pontos a recordar sobre a ZDP:
• O comportamento da criança durante o desempenho assistido revela os comportamentos que estão em vias de emergir. Se insistimos em desempenho independente apenas para descobrir onde é que uma criança está, o que sabe e o que pode fazer, então as habilidades que estão à beira de emergir nunca serão evidentes.
• O desempenho assistido é o nível máximo a que uma criança pode chegar, de momento.
• Quando uma habilidade está fora da ZDP, as crianças ignoram-na, falham ou usam-na incorrectamente. É pela observação das reacções/respostas que os professores conhecerão se a sua assistência cai dentro da ZDP.
• Os professores devem anotar com cuidado quais os tempos, ideias, actividades ouactividades cooperativas que têm um efeito desejado na aprendizagem das crianças.
• Os professores não devem ter medo de tentar um nível mais elevado, mas devem ouvir as crianças, dando atenção às reacções às suas tentativas de as assistir a desenvolver ferramentas mentais mais elevadas - dentro das suas ZDPs e, assim, expandindo-as.
• As ZDP de cada aprendiz é única. Num grupo de aprendizes não é de se esperarcoincidência entre as várias “janelas” de aprendizagem.

Mediação exterior mediador externo,deve:
• Ter significado especial para a criança e ser capaz de invocar esse significado
• Estar ligado a um objecto que a criança use antes ou durante o desempenho da tarefa
• Manter-se saliente, visível
• Combinar mediação com linguagem e outras sugestões comportamentais

Deve escolher-se um mediador cuja utilização possa “cair” dentro da ZDP da criança
Deve usar-se o mediador para representar o que se pretende que a criança faça

Utilidade dos mediadores:
• Tornam o processamento mental mais fácil e mais eficaz
• Eventualmente, darão às crianças ferramentas que as habilitem a empenhar-se em processos mentais superiores

Utilidade dos mediadores a curto-prazo :
• Darem suporte ao procedimento mental
• Ajudarem a criança a focar e a dar atenção à tarefa
• Funcionarem como estímulo fora da dependência do professor
• Permitirem que a tarefa seja desempenhada pela criança, de uma maneira mais eficaz

Utilidade dos mediadores a longo-prazo:
• Proporcionar assistência ao desenvolvimento das funções mentais elevadas
• Ajudar a criança a adquirir memória deliberada, atenção focada e auto-regulação
• Dar suporte à necessidade de expansão da ZDP

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